segunda-feira, abril 28, 2008

DEUSA

Deusa

Retorno a mim, hoje, agora.
Vou me ser, outra vez,
nesse último sol
que se apaga lá fora
no cinza poente do teu olhar
o teu oceano de navegação
em qualquer mar morto
que afogue meu coração.
E contigo todas as sereias
dos oceanos e dos céus,
todas as ondas, os ventos e os arrecifes
todas as musas e as deusas sem véus
Febe, Calíope, Briseida e Afrodite.
Não direi das ondas fortes
em cascos de veleiros...
Ah, sobre os teus seios
de deusa também um deuse
em cardumes de desejos.
Ai! Todas essas fêmeas,
todas essas musas, bendigo!
Oh deusa, eu vou à volúpia
de uma noite contigo.
O azul e a noite, a lua e tu,
as deusas e as sereias.
Comigo o mar de ti
num leito de rosas
em lençóis de jasmim
ao ritmo do teu corpo
entre a cintura e o teu quadril
mais a manta de aromas
do meu corpo viril
em monte de pétalas desfeito...
A cada arco das tuas curvas
moldaremos à forma o meu corpo.
Tua pele aprenderá da minha
o aroma e maciez e desejos.
Em cada palmo da tua pele estou
em cada poro do meu corpo estás.
Aprenderás, ainda, que a noite
dos que dormem a aurora acordam
sobre os seios das deusas...
Vem dormir comigo e contigo
todas as deusas e sereias
todas as ninfas e musas.

Ai deusa, este poema
é como um punhal
pelo punho brota flores...
E quem quiser ver-me
que me procure nos teus olhos.

Valha-me Deus! Oh, deusa
cravei o tritão de Poseidon na lua
e as velas de tua nau serão escassas
para enxugar-te as lágrimas...

E nunca mais:
a melodia de um reggae
dos hinos do Bob Marley
aos teus ouvidos cegos...

O Sibarita

sexta-feira, abril 25, 2008

RESSACA II

Ressaca I I

Já foi tarde! Neguinha, ajoelhou, tem que rezar.
Criei agora a sinopse futura jogando os búzios,
O que foi lá se foi... O que e a quem lembrar?
Se o teu sol em amarelo amaranto é dúbio...

Crendeuspai! Agora, é tocar o bonde prá lapinha
Eu, to que to, arrepiando, jogando duro em jauá.
Beijo os dias no olhar daquela moça. Ai, Mainha!
É água dura... Uns cravinhos aqui e outros aculá...

Vixe! Dona menina estou solto na buraqueira, ôie!
Plantei rosas, conciliei os desejos, apalpei o escuro.
Mas, vem dormir comigo, vem de chofre, a migué
Jogue os cajás nesse leito de rosas onde te procuro...

Ai Deus! Negros olhos de ônix, toloquinho, na fome.
Então, entre. Dispa-se. E, nua, a rir, sem cerimônias,
Cai-te bem a nudez nos desejos que me consomem
Oh, nívea, soberba, irreal, pulcra, serena, demônia!

Valha-nos Deus! É na real. Assim, fantasias por fantasias
Escancaradas nos lençóis de jasmim para céu pegar fogo.
Solta a imaginação açucena, adoro! Oh, noite de agonias
Onça, onça caçando a presa nos uis e nos ais do teu rogo...

Madaso! Girafa que alucina, taça esbelta, lábios de rubis
Vermelho batom que me delira, amor venal, lunar delicia
Da minha boca viciada na relva negra do púbis, teu púbis!
Reconhece-me? Sou eu! O teu pachá, mandarim e sibarita.

Misericórdia! Ó miseravona, seios de cerejas,
Pequenos, serenos, leves e desejosos de Jauá.
Ai! Rezo missa em trezentos e sessentas igrejas
Quando a aurora nasce na dança do teu andar...

Piripicado! Num leito de fantasias a noite é cega.
O corpo violão da moça, a pele morena do moço
Reféns de vontades em estandarte de entregas
Com a lua nos espelhos em chamas e alvoroço...

Mas, Divina! Olha o que fizeste?
O azul do céu gravita em ressacas
E eu colado no chão da tua esquina...

O Sibarita

PALAVRAS EM BAIANÊS:

Neguinha (o) – Nome carinhoso que chamamos uma mulher ou um homem.
Ajoelhou, tem que rezar – Tomar atitude e assumir com as conseqüências.
Jogar os búzios – Ver o que os búzios dizem.
Crendeuspai – Creio em Deus Pai.
Tocar o bonde prá lapinha – Ir em frente, continuar a vida
Eu, tô que tô – Estar a fim de...
Arrepiando – Não está para brincadeira.
Jogando duro – Sem perdão, a sério.
Mainha – Nome carinhoso que chamamos a mulher que gostamos ou queremos.
Água dura – Beber até cair bebidas alcoólicas.
Cravinho – Batida (alcoólica) de cravo feito no Pelourinho.
Vixe – Virgem.
Dona menina – Mulher tirada à mocinha.
Solto na buraqueira – Sem compromisso, desejando todas as mulheres.
A migué – À vontade.
Jogue os cajás - Botar pra quebrar.
Toloquinho – Tá louco.
Na fome – Desejoso, querendo.
Valha-nos Deus – Ajuda-nos.
Onça – Mulher que sabe fazer tudo na cama.
Madaso – Meu Deus.
Misericórdia – Perdão.
Miseravona – Mulher gostosa.
Piripicado – Com certeza.
Divina – Mulher tratada como rainha.

N.A. – Na Bahia, é normal o vocabulário baianês. Usamos muito as expressões que falam em Deus, Jesus, Senhor do Bonfim, São Jorge, Ogum... Exp: Ai meu Deus! Valha-me Jesus Cristo, Ajuda-me Senhor do Bonfim, por ai vai. Isso é usual por sermos o estado mais católico do Brasil, basta dizer que temos umas 400 igrejas católicas só em Salvador, podemos ir a cada uma todos os dias e não se conhecerá todas em um ano. Somos também um povo do Candomblé atuante, ou seja, o sincretismo religioso aqui funciona, pais, mães, filhos, filhas de Santo, todo povo de Santo (Candomblé) vão às igrejas e os Padres sempre aos terreiros. Hoje, muitos filhos de Santos se tornaram padres entrando nos seminários existentes aqui.

sábado, abril 19, 2008

RESSACA

Ressaca

Caô, caô! O Coro come, ai Deus! A fila anda, fia!
Humm... Eu de short sem camisa pela praia de Jauá
Entrego-me nessa noite quente e sem agonias
Onde, cintila a lua crescente iluminando o mar...

A tô tô meu Pai! Estou no olhar daquela dona moça
E o que ouço é o tic-tac do teu coração de rochedo
Em desérticos céus de sorrisos largos de mariposa
Batendo no sentido anti-horário dos meus desejos...

Piro! Viajo na maionese, quero os teus lábios que brilham
Naquele batom carmim buscando os caminhos da tentação.
Mainha, sei... tu na cumplicidade dos meus sonhos fervilha,
Agora, é tempo! Eu, livre e solto no ventre da tua perdição...

Valha-me Deus! Ôie... Esguia taça de âmbar salpicada
De ardências e quereres, rastro ágil de corça em relva.
A brenha dos teus olhos me confunde e eu te faço fada,
No imo do meu coração, felino tropel, rompendo selva...

Faça fé! Minha nega, por dentro e pelo avesso eu navego
No mar do teu corpo, onde, adentro no teu porto sem véus.
Busco em ti os caprichos dos dias aos teus olhos tão cegos
Sem nenhum sinal de querença... Mas, vem me namorar céu!

Tá rebocado! O teu Corpo, eu desfolho, enquanto, arquejo
Nos suspiros. É, Noite perfeita de luar prateando o teu tudo.
Cobiça em brasas qual colibri que sorve a flor num beijo,
Diz-me, e ai? Não me negues! Cruz, Credo eu te desconjuro...

É... Mas, tudo flutua, voa, revoa
Corre, escorre, passa, repassa...
Valha-me Jesus, ela é toda boa!
Olha-me e disfarça em plena ressaca,
Na abóbada, a lua coa, escoa, ressoa...

O Sibarita


BAIANÊS USADO:

Caô, Caô - Atenção.
O Coro Come - O jogo é duro.
A Fila Anda - Termina o namoro e já tem várias(os)querendo.
Fia, Fio - Nome carinhoso pelo qual chamamos a quem gostamos.
A Tô tô Meu Pai! - Saudação aos Orixás, pedindo proteção.
Dona Moça - Mulher que se diz virgem sem ser. Também, mulher da vida.
Mariposa - Mulher da vida, profíssional do sexo.
Piro - Fico maluco.
Viajar na Maionese - Ficar zen, contemplativo, sonhando.
Mainha - Nome carinhoso, sensual demonstrando desejosos a uma mulher.
Valha-me Deus! - Pedindo proteção divina.
Faça Fé - Afirmativo, acredite.
Minha Nega - Demonstração de carinho a uma mulher.
Tá Rebocado! - Acredite, pode crer.
Toda Boa - Mulher de corpo bonito, gostosa.

segunda-feira, abril 14, 2008

NADA ALÉM...

Nada Além..

A Oliver, Pati, Dih, Pena, Maria, Nilson Barcelli, Grace, Júlia...

Nada sei além desta janela
aberta diante do meu olhar.
É a maré, é a maré!
Lixos e ratos
estampados no horizonte
de urubus circundando
pelo céu sob a réstia
do sol alumiando meus olhos
perdidos no escarcéu.
Olhando da janela
a visão é ciclope
e me remete
à infância na maré.
As rajadas no azul cinza
de moribundos dias
não esquecidos.
Quebrantava-se o dia...
Era a vida!
Miríade de sonhos
na misantropia
dourando barrigas de lombrigas
sucumbindo pela anemia...

Nada além...
A fome e o lixo!
Das flores,
apenas, o resquício.

O Sibarita


quinta-feira, abril 10, 2008

ORÁCULO

Oráculo

A palavra é escrava do silêncio
E despe da alma a burka do coração
Do amor a pilhagem do sentimento
Espalhando fantasias à tua perfeição...

Palavras, brilho enigmático, por vezes,
Penduricalho, picadeiro, açúcar com mel
Despertando melodias ou veneno com fel
É vertigem do coração no fulgor da nudez...

As palavras na escuridão são mágicas
Semeiam as luzes na vigília da insônia
Então, fita-me a noite, poesia letárgica
Em versos visíveis de faces invisíveis...

Não sei se as palavras são fios de uma navalha
Cortando, sangrando, revelando o peito no abismo
Onde, o poeta navega sem bússola no nevoeiro
Em que deuses e serafins são os timoneiros, cismo!

As palavras que desfilam no céu da minha cabeça
Germinam os versos, retratam os desejos, ouro fino!
Não fingem a dor nem o brilho estrelar da noite.
Relicário do pensamento, fazem rotas, mudam destinos
E no silêncio dos olhares ao avesso colhem os açoites...

O Sibarita

terça-feira, abril 08, 2008

AMOR (RÉQUIEM)

Amor (Réquiem)

Em qualquer noite, qualquer dia,
Apago o teu coração, o teu olhar.
Mato o desejo e no riso da agonia
Deixo gota a gota o amor sangrar...

Na pré-coma... na coma profunda
Corto o oxigênio e no estado terminal
Uma flor na lapela da dor que se afunda
E no descanse em paz farei o teu funeral!

Cremarei tudo: o amor, a paixão e a dor.
E sob a noite fria, sem lua, um pandeiro
Alforriado rufará sobre o mar desolador
Onde jogarei as cinzas à luz de candeeiro!

Te farei orações daquele meu antigo sonhar
E olhando o horizonte como desejo derradeiro
Será na missa de sétimo dia sob a lua de *Jauá
Que chorarei às estrelas por esse amor arteiro!

De luto mostrarei ao luar os sonhos que em ti sustentei
Transformarei em silêncio o presente das lembranças
E cortarei em mil pedacinhos o tempo em que te amei.
Oh, Deus! A porta entreaberta, ainda, range de esperança.

E no entanto, o réquiem dessa paixão cortada ao meio
São versos fúnebres... busco em ti o desejo que se lança
Em mim falta a metade inacabada do teu coração alheio
Por não saber se esse meu querer o teu amor alcança!

O Sibarita
*Jauá, lugarejo de praia com luar muito bonito, Cidade de Camaçari/Ba. Litoral Norte de Salvador.

quinta-feira, abril 03, 2008

MADONA

Madona

No teu leito de madona e ventos
Soprando desejos do teu sonhar
Acerco-me de ti em passos lentos
E, já que dormes, irei me revelar...

Ao querer do teu ser e ao íntimo de ti,
Da tua essência selvagem e no aroma
Ai! Semente minha, lábios de carmim
Sou flama do teu incêndio que devora...

É que procuro os gozos do teu respirar
Cavalgando luas crescentes dos meus céus
Pelo fogo das noites pendurado no teu olhar...

Sim, trago em mim, toda glória dos desejos
Mas, tenho o olhar opaco de desamparo
Quando as estrelas piscam sem os teus beijos...

O Sibarita